terça-feira, 8 de maio de 2007

sonho

Quarto branco. Mais ou menos onze da noite. Moça morena, alta, de dedos longos e sorriso ímpar tem em seu colo um garoto apaixonado. Ele tem um metro e oitenta e muita coisa para dizer. Ela passa os dedos pelos cabelos dele pensando porque está ali. Ele fecha os olhos para fingir que é um sonho. Ele ainda não sabe como aquela mão é macia porque o contato com ela ocorreu por meio de seu insensível coro cabeludo. Coro cabeludo de merda. Insensível. Ele tem uma bolinha azul, que joga para cima. Ela a bolinha desenvolve o movimento lentamente, pára e cai em sua barriga. Take de dois minutos mostra como eles poderiam passar a vida ali.

Ela:
...

Ele:
Fala

Ela:
O que?

Ele:
O que você ia dizer...

Ela:
Nada.

Os dedos longos são curtos para aquele monte de cabelos. Um sorriso quase nasce, mas ela se acha um pouco ridícula. Decide fazê-lo dormir. Ele pensa nela por meio de Tom Zé... (morena, minha morena, tira a roupa da janela, vendo a roupa sem a dona, eu penso na dona sem ela). Ele pensa nela por meio de si. Ele pensa nela pelo meio. Ele pensa nela por inteiro. Ele não pensa. Ele não consegue. Ela brinca de caminhos nos cabelos dele, sabendo que as trilhas abertas logo se fecharão. E que terá todo o tempo do mundo para reabrir a picada.

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