segunda-feira, 17 de novembro de 2008

faz tempo

quando eu era corsário
as coisas tinham cheiro de vela de aniversário
a vida não tinha ensaio
e eu gostava mesmo era da chuva quando caía raio
corria, mas não para querer ser atleta
também não era um pateta
só não sabia ainda como era bom brincar de ser poeta

terça-feira, 28 de outubro de 2008

daily show



Sensacional. A bronca de Jon Stewart com Palin comprando roupas em Nova York é que, segundo ela diz na campanha, a "América real" está nas pequenas cidades. "Nossa, Bin Laden deve estar se sentindo um idiota", disse ele outro dia. Impagável.

Parece que o embebed da Comedy Central é temperamental, então aí vai o link: http://www.thedailyshow.com/video/index.jhtml?videoId=189136&title=project-beltway&byDate=true

quarta-feira, 22 de outubro de 2008

força bruta

Um homem vestido como executivo cansado corre. Tromba nos outros, que não dão pela presença dele. O ritmo acelera, e obstáculos voam contra o homem, que os atravessa sem pensar muito, porque, se o fizer, cai. Em seguida uma revoada de papéis como os comprovantes de cartão de crédito que se acumulam na minha gaveta da direita. Toma um tiro. Momentos depois, levanta-se e repete tudo, com a única diferença de fazer uma breve e conturbada pausa para o almoço. Estamos nos matando.

Um momento de sonho, com ninfas dançando e andando pela parede, serve como breve descanso. Mas o ritmo alucinado logo volta, e o que eles estão aqui para nos mostrar é que, se não festejarmos um poucos, se não nos jogarmos na água, se não fecharmos os olhos, se não nos apalparmos (com todo o respeito e consentimento, epa!) seremos engolidos pela força bruta do tempo. Uma das coisas que ainda não podemos manipular, nem nunca poderemos. Grande causa de ansiedade para nós, jovens que ainda lembramos do tempo em que os irmãos se revezavam para trocar os canais, porque implicava levantar do sofá, mas nos acostumamos alegremente a controlar tudo com o controle remoto, a programar nossos jornais (e agora televisões) pela internet.

Até 9 de novembro no Parque Villa Lobos

segunda-feira, 13 de outubro de 2008

a girl like you's just irresistible



"Whistle For The Choir"

Well it's a big big city and it's always the same
Can never be too pretty tell me you your name
Is it out of line if I were simply bold to say "Would you be mine"?

Because I may be a beggar and you maybe the queen
I know I maybe on a downer am still ready to dream
Now it's 3 o'clock time it takes for you to talk

So if you're lonely why'd you say your not lonely
Oh your a silly girl, I know I hurt it so
It's just like you to come
And go you know me no you don't even know me
Your so sweet to try, oh my, you caught my eye
A girl like you's just irresistible

Well it's a big big city and the lights are all out
But it's much as I can do you know to figure you out
And I must confess, my hearts in broken pieces
And my heads a mess
And it's 4 in the morning, and I'm walking along
Beside the ghost of every drinker here who has ever done wrong
And it's you, woo hoo
That's got me going crazy for the things you do

So if your crazy I don't care you amaze me
Oh your a stupid girl, oh me, oh my, you talk
I die, you smile, you laugh, I cry
And only, a girl like you could be lonely
And it's a crying shame, if you would think the same
A boy like me's just irresistible

So if your lonely, why'd you say you're not lonely
Oh your a silly girl, I know I hurt it so
It's just like you to come and go
And know me, no you don't even know me
Your so sweet to try oh my, you caught my eye
A girl like you's just irresistible

terça-feira, 9 de setembro de 2008

retomada

Uns fios de cabelo insistiam em enganchar nos cílios, como que para fazer uma conexão direta entre cabeça e olhos e lembrá-la de que o que estava ali na frente a fazia feliz. E muito. Para tirar as dúvidas do meio e fazer ligação direta com o futuro. E ele tímido disse que estava escrevendo, porque estava mesmo. Mas tímido porque fazia tempo que não exercitava as canetas.

quarta-feira, 16 de julho de 2008

às tampas com Dantas

Desculpem poluir esse espaço dedicado às coisas mais elevadas da humanidade com uma coisa tão mundana como o crime, mas não consegui não escrever esse texto.


Não me causou surpresa nenhuma o fato de que o esquema Dantas tentava corromper - muitas vezes com sucesso - tudo o que encontrava pela frente desde que teve início o processo de privatização, há mais de 10 anos. Tampouco chocou saber que Naji Nahas continua operando, assim como sabemos que Paulo Maluf passará a vida sem ser preso após uma condenação.
O que a revelação de mais uma leva de sujeira causa é indignação. Por perceber que o ministro da Justiça, Tarso Genro, nos chama de idiotas na maior cara de pau ao dizer que a saída dos delegados responsáveis pela operação foi uma "coincidência". Por saber que os doleiros - peças centrais na repatriação de dinheiro roubado em esquemas de corrupção - já foram identificados em casos anteriores e estão soltos!
Olhem só esses trechos do relatório que a PF encaminhou à Justiça:

- Lúcio Bolonha Funaro é sócio excluído da empresa Guaranhuns Empreendimentos e Participações S/C Ltda. e considerado por alguns como o “doleiro do mensalão”

- "Marco Ernest MATALON é conhecido como um dos maiores doleiros do país e já foi investigado em diversos inquéritos da DELEFIN/DRCOR/SR/DPF/SP."

Não há o mínimo interesse em estancar esse tipo de crime no país, porque para muitas pessoas influentes o crime é na verdade um serviço da mais alta relevância. Quem sabe daqui a pouco criam o dia do "Operador de moeda estrangeira no mercado paralelo" ou a medalha "Toninho da Barcelona" de honra ao mérito.

Ah, mas nós temos órgãos para a fiscalização! Legal. Veja você como são as coisas. Quando eu fui abrir uma empresa, foram três meses de enrolações. O Grupo Opportunity tem, segundo a PF, um número "incalculável" - peraí, de novo: "incalculável", centenas - de empresas. Como eles conseguem, tão rapidamente?! Como o Banco Central permitiu que aquilo virasse um antro de corrupção tão gigantesco e intrincado que quase não é possível detectar o caminho do dinheiro, para seguir o velho conselho de Mark Felt, o "Garganta Profunda".

Vamos agora ao Conselho de Controle de Atividades Financeiras (Coaf), cujo presidente, Antonio Gustavo Rodrigues, acabou de assumir a presidência do Grupo de Ação Financeira contra a Lavagem de Dinheiro e o Financiamento do Terrorismo (GAFI/FATF). Uau, que alívio! Agora estamos seguros. Sabem por que? Porque o Opportunity simplesmente ignorou a chamada Carta-Circular Bacen 2.826/98, que determina que os bancos devem informar movimentações suspeitas ao tal Coaf. Ótimo, baita instrumento. Mas peraí. E se o principal negócio do banco for justamente dar guarida a pilantras de todas as espécies? Ah, com certeza tem punições. Tem mesmo. Está discriminada em uma outra circular do Banco Central, que remete à lei 9.613/98, de combate à lavagem de dinheiro. São elas:

I - advertência;

II - multa pecuniária variável, de um por cento até o dobro do valor da operação, ou até duzentos por cento do lucro obtido ou que presumivelmente seria obtido pela realização da operação, ou, ainda, multa de até R$ 200.000,00 (duzentos mil reais);

III - inabilitação temporária, pelo prazo de até dez anos, para o exercício do cargo de administrador das pessoas jurídicas referidas no art. 9º;

IV - cassação da autorização para operação ou funcionamento.

Deviam ter feito o item V: Nenhuma das anteriores.

Por último, mas não menos desimportante e ineficiente, temos a atuação da Receita Federal. Essa guardiã do nosso Imposto de Renda Pessoa Física, descontado sem dó na folha de pagamento. Há um procedimento no âmbito da Receita chamado "Processo Fiscal". Um técnico uma vez me disse que ele geralmente é acionado quando a movimentação financeira de determinada pessoa ultrapassa em dez vezes o quanto ela ganha, ou quando há mudanças societárias estranhas.
O advogado Eduardo Duarte tem, segundo a Polícia Federal, cerca de 600 empresas em seu nome. A PF não sabe se trata-se de um laranja ou não. O que eu sei é que na página da Receita constam nada menos do que 50 - CINQÜENTA! - processos sobre ele entre 19/03/2002 e 06/11/2007. Será que ninguém se interessou em dar uma olhadinha nisso? Ou olhou e anotou mais alguns trocados na caderneta paralela? Segundo as interpretações que muitos juízes e promotores dão à Convenção de Palermo para o crime organizado, da ONU, em toda prática do tipo há a participação de agentes públicos. Onde estão os da Operação Satiagraha?

E quem garante que, mesmo que este esquema seja desmontado, não haverá outro para tomar o lugar? Quantos outros esquemas não estão rolando agora mesmo, com a lição de serem mais discretos para terem uma vida tranqüila. Aprendendo com as lições de quem "caiu", enquanto o combate a tudo isso não evolui.

Para animar um pouco, algo bonito produzido nas ruas de São Paulo. Obra dos Gêmeos.

sábado, 28 de junho de 2008

cadente

Disseram a ela que, se quisesse ser cadente, deveria escolher um momento muito, mas muito especial para aparecer. A estrela ficou cabisbaixa, sentadinha em alguma nebulosa a observar a Terra, sem contudo achar algo tão especial assim. Quase só via pessoas brigando, enganando, corrompendo, sujando. Os poucos amores e coisas bonitas que passavam pareciam fugazes demais. Às vezes até um pouco artificiais. Romances que seguem a cartilha das comédias românticas, que em 15 minutos entregam o enredo inteiro. Foi então que, no fim de uma noite fria, observou lá de longe, serpenteando balançante pela serra, um carrinho iluminado, carregando apenas duas pessoas, mas impregnado daquilo que esperava. Rapidamente ela se levantou e pulou, tentando brilhar o máximo que podia. Pouco antes de sumir, jurou ter ouvido lá de longe: "olha, que lindo!". E acabou-se num eterno sorriso.

sexta-feira, 20 de junho de 2008

Arizona

Arizona não me sai da cabeça. Os acordes esticados e tristes se repetem, me repetem. Alguns versos eu lembro. "All I ever wanted/ All I ever needed/ Too dumb to surrender". Me arrastando tento dar cabo desse dia. E torço. Para que uma palavra de esperança brote piscando. Para que não se desperdice um trabalho fantástico. E agora ouço A disconsolate star imaginando que tipo de história é aquela, e porque uma estrela ficaria desesperançadamente triste. Da minha parte eu sei.

quinta-feira, 12 de junho de 2008

62

Tão discreto quanto a categoria permite, o despertador vermelho comprado no Carrefour dispara. São 8h e uma mão direita sonada quase derruba o objeto no chão ao tatear a superfície que o tempo ainda não permitiu explorar. Ele vira o corpo enquanto levanta, usando o cóccix como eixo. Apoia as mãos nos joelhos e levanta o pescoço. Olhando em volta, não contém o sorriso ao admirar, mesmo embaçado pela miopia e com um resquício de cheiro de tinta, o seu novo quarto. Tom de azul que caiu melhor do que qualquer outro. A olhadela sobre o ombro esquerdo é só para esguichar um pouco de felicidade, porque essa não tem que economizar, não tem Sabesp para te mandar fechar o registro. E se nessa primeira manhã ela já alagou quase tudo, pense só como será. Prestes a levantar, ele pensa "I kinda think I liker her. I kinda think I do".

sexta-feira, 6 de junho de 2008

trim trim

Eu aqui exultante só penso em te ligar. Quero contar as novidades, rir contigo. Brincar de fazer manha um pouco. Mas só um pouco, porque depois, diante dessa felicidade sem tamanho de quando te ouço, fica sem graça... E tudo isso se paraliza quando penso "será que ela ainda dorme?"

sexta-feira, 16 de maio de 2008

é assim mesmo?

- Já aconteceu isso com você?
- O que?
- Essa vontade de fazer alguém feliz...
- Ué, claro. Todo aniversário, dia das mães,eu quero deixar as pessoas felizes
- Não, mas eu estou falando de uma pessoa especificamente. E é constante...
- É, acho que assim, assim, não mesmo...

Há vezes em que não importa o furo de reportagem na mesa ao lado. Não importam os risotos superfaturados e nem o piano. Importa a certeza de que essas risadas se repetirão nos mais diferentes cenários e dias. Comemorar as decisões que se toma nessa vida incerta. Importa desejar saber se ela está bem. E querer, mais do que levar para casa, ter o sorriso sempre por perto. Porque é ele quem vai te ajudar a ser melhor.

terça-feira, 6 de maio de 2008

malvados




do www.malvados.com.br

pesquisa

Disseram que ele podia ganhar um carro se respondesse algumas perguntinhas. Mas quando chegou na trinta e dois, ele desistiu. Largou o computador ligado, balbuciando algo que os subordinados não entenderam. Suzana, que tinha um pouco mais de intimidade, correu até ele, para saber o que estava acontecendo, e o alcançou já com os olhos cheios de lágrimas. "Eu não tenho nem tempo de ter uma gripe, Suzana". "O que?!". "Não tenho tempo de deixar meu corpo se cuidar sozinho. Tomo naldecon para voltar logo ao trabalho, para não ser ultrapassado, para não perder. Eu passo tanto tempo querendo ter tudo que já não sei mais o que quero". "Mas o que é isso, Dr. Cláudio? O senhor tem tudo o que se quer nessa vida, se acalma um pouco, por favor". "Não Suzana, eu não tenho. Mas também não sei o que falta".

32. Quais são os 5 principais objetivos ou sonhos que você gostaria de conquistar ou realizar?

Conseguir um emprego
Voltar a estudar
Cursar uma faculdade
Ter mais tempo para ficar com a família
Crescer profissionalmente
Ter filhos
Conhecer uma pessoa legal para relacionar-me afetivamente
Ter uma vida mais saudável
Casar
Ter outra profissão
Ser famoso(a)
Mudar de emprego
Comprar ou trocar o carro
Adquirir uma casa na praia / campo
Ter dinheiro para ajudar as pessoas que eu amo
Ter um negócio próprio
Ter status (ser reconhecido pela minha posição social)
Fazer uma viagem dentro do Brasil
Mudar o meu visual
Ser um voluntário em uma instituição do terceiro setor
Comprar uma casa / apartamento
Contribuir financeiramente com uma instituição do terceiro setor/organizações não-governamentais
Fazer uma viagem para ver a minha família
Fazer uma viagem para fora do Brasil
Outros. Quais?

quinta-feira, 24 de abril de 2008

paredes

Ela estava encostada de jeito que não pode fazerm bem pra coluna na parede vermelha do restaurante japonês. Displicente, feliz por estar ali. Parecia cena de filme com o Jude Law, exceto que ele não estava lá, mas sim eu.

Alguns minutos depois, eu, e não Jude Law - para quem o termo seria apenas uma referência geográfica óbvia - era xingado de inglês. O chato que não quis dançar numa boa no meio do restaurante vazio. Justo. E aí vem a grande questão. Quanto tempo se leva para mudar um jeito, um traço, uma forma de agir, mesmo desejando intensamente a mudança? Como se faz para, diante da biblioteca imensa de emoções e reações possíveis, escolher o riso de deboche e o suíngue desajeitado no lugar da vergonha, no lugar das coisas grudentas e feias?

terça-feira, 8 de abril de 2008

cadeia

O crime cria minutos na tevê, que impactam você, te fazem andar tenso pela marginal tietê. E grilado, com medo, parado no farol, faz que vai e faz que vai, provocando a ira do trabalhador na faixa de pedestres. Eita mundo sem razão.

quarta-feira, 26 de março de 2008

deixa eu te dizer uma coisa

Ontem mesmo comecei a bolar um post sobre a quase morte da televisão e eis que hoje a coluna do Daniel Castro na Folha de S. Paulo se surpreende com um pesquisa do Ibope que mostra queda sensível no número de aparelhos de televisão ligados no Rio de Janeiro. As hipóteses levantadas lá são: "elevado número de evangélicos, alta pirataria a cabo em áreas controladas pelo tráfico e dificuldade de medição pelo Ibope". Ninguém parou para pensar que o conteúdo é nojento de ruim, e pelo visto não viram essa da Reuters, também de hoje: "O número de internautas residenciais no Brasil atingiu em fevereiro 22 milhões de pessoas, um aumento de 56,7% em relação ao mesmo mês de 2006, segundo dados divulgados nesta quarta-feira pelo Ibope/NetRatings". Mas vamos lá. Se estes são os supostos motivos para as massas desistirem da televisão, me arrisco a dizer porque os jovens, ricos e antenados em geral ligam cada vez menos para o eletrodoméstico.

Eles não têm tempo para passar horas em frente à televisão esperando algo de bom acontecer. No momento em que um Fernando Vanucci falar asneira ou qualquer outro evento relevante vier, há a certeza de que o conteúdo estará disponível em algumas horas na internet.

Eles não têm paciência para esperar a leniência e a estratégia burra das produtoras e emissoras de conteúdo, que demoram meses para veicular aqui o episódio de um seriado que foi ao ar ontem no país de origem. Bom, adivinha só. Eles não precisam esperar. Há uma rede de pessoas para digitalizar, traduzir e legendar programas e filmes em apenas alguns dias.

Eles ligam laptops em televisões de LCD e têm teclado e mouse sem fio. Aliás, senhores gênios do marketing, não dá para lançar mais nada com qualquer aura de revolucionário ou melhor do mundo, como fez uma empresa de celulares aí, com fio. Acabou. Fio é como corda da forca.

Eles sabem manipular o manancial imenso de informações da internet para seus próprios interesses. Não dependem do que um punhado de megaportais resolve elencar como os principais do dia, como fazem os jornais tradicionais com as notícias de ontem.

Pelo menos eu acho.

terça-feira, 25 de março de 2008

is this your first time in Chicago?

Como se pilotasse uma câmera sobre trilhos, fiz a imagem do sorriso dela lamber deliciosamente a minha retina, até ser arquivada devagar nas prateleiras mais nobres memória. No fundo, um muro de pedras do século XVI dava uma impressão boa de déjà vu. Que bom. Não faltam cidades para desbravar.

sexta-feira, 14 de março de 2008

eba

quando as enormes portas do salão decorado se abriram, ela hesitou por por meio momento a identificar rostos conhecidos. quando as caixas de som soltaram a virada de bateria e o primeiro Mi vindo da guitarra gravada mexeu com aqueles martelos, bigornas e estribos presentes, muitos se surpreenderam, mas ela sorriu. e ele, lá na frente, cutucando a cutícula do dedão com o dedo médio e com os ombros suspensos, como fazia involuntariamente nos momentos de nervosismo, lembrava como é bom acertar.

estranho

de ontem para hoje, meus dentes da frente da arcada de baixo começaram a formigar. me peguei pensando no absurdo de que eles estavam coçando. devem estar é caindo lentamente.

não sei mais

começado em outubro de 2007, não sei porque, e terminado agora há pouco.

Quando tinha uns 12 anos e passava por alguma crise pré-adolescente, o pai dele procurou - não se sabe onde em tempos pré-internet - uma frase que dizia mais ou menos assim: "nada sai certo da primeira vez. É preciso, portanto, ter coragem de errar". O papel pousou na mesa do telefone - naquele tempo telefone tinha mesa com banquinho acoplado porque também tinha fio - e foi encontrado antes da hora da escola para ser tratado com desprezo.

Aquilo não fez muito efeito na hora, porque há idades abomináveis e fossas a serem ser curtidas, mas o menino nunca mais esqueceu o gesto e a mensagem. Era a forma que o pai encontrava para se comunicar. Inteligente e muito bem informado, ele carecia de habilidade neste princípio tão básico quanto poderoso.

Passaram-se anos até que o menino percebesse o quanto dele vinha do pai. Admirava-o timidamente e ainda um pouco de longe, respeitando a barreira besta criada pelo tempo. Sentia que, depois de tudo o que o pai fizera por eles, talvez não tivesse recebido o carinho e o reconhecimento merecidos.

Desconfio que, com o tempo, aquele pai cansou. Não da família, que sempre será, se não a melhor projetada, a mais bem acabada de suas obras, mas da espera de ver demonstrações de amor. Como é triste privar alguém desta expectativa.

E hoje aquele menino crescido tece lágrimas com uma fibra dolorida de medo e angústia por receio de ser assim a vida inteira. De ser um homem menor do que todos esperavam, sozinho com sua presunção bem disfarçada e suas virtudes dispensáveis. Um engodo. Boa conversa para três horas de bar, boa companhia por alguns meses. E só.

Odilo

Odilo acordou com sede. Quando chegou à cozinha o relógio marcava 3h10. Escolheu um copo do escorredor e foi até o filtro. Encheu-o por duas vezes e voltou à cama. Algo o inquietava naquela noite, embora ele não soubesse dizer o que. Odilo se inquietava contidamente. Ele nunca falava mais alto do que o necessário - no que o admiro e compactuo - e discutia sorrindo. Pensava antes de falar, e com isso qualquer discussão perde ritmo. Aí, ou o interlocutor se irritava e ia embora, ao que ele se saía com um irritante "peraí, você não sabe conversar" cheio de cinismo e ar vitorioso, mesmo que não tivesse razão, ou a pessoa se dispunha a falar mais calmamente. Odilo entendia de retórica, mas não de sentimentos. E com essa casca nunca resolvia nada, nunca percebia seus erros. Só aceitava elogios, mas não esquecia as críticas. No entanto ele, tanto quanto eu, sabe que memórias não somem na marra.

Odilo estava inquieto porque seus erros insepultos ensaiavam ressurgir. E ele os escondia porque ninguém nunca o havia questionado o suficiente para que ele mostrasse.

quarta-feira, 20 de fevereiro de 2008

mutantes

As palavras que daqui rarearam não morreram. Transmutaram-se em gestos. Cada vírgula virou uma pausa de carinho, e os verbos, beijos caudalosos. Os adjetivos vestiram-se de olhares, e os substantivos fazem papel de lugares. O esticado de um bocejo é o que costumava aparecer como uma forçada despedida. Mas ponto final, esse me recuso a usar

quinta-feira, 14 de fevereiro de 2008

Esse é para ser só um carinho. Lembrança da voz que acalma durante a madrugada. Ei, ei, ei, não fica assim... Eu to aqui, não tá vendo? Não to a venda, não vou a parte alguma. Vendaval nenhum me tira. Problemas sem solução, só gosto na literatura. E fique ou não na minha, serei sempre da sua.

quinta-feira, 24 de janeiro de 2008

seis

Entrou naquela quituteria intuitivamente. No lusco fusco, caminhou até o fim do salão, onde atrás de um balcão sentava uma senhora daquelas com cara de quem vende coisas mágicas. Fez bom dia com os olhos e colocou o nariz na vitrine. Escolheu meia dúzia. Principalmente doces, mais uns daqueles que anestesiam a boca e outros dos que fazem explosões de festa. "Meia dúzia é muito pouco", ela disse. E ele respondeu. "Eu sei. Mas eu volto sempre para buscar mais".

quarta-feira, 16 de janeiro de 2008

os anjos de swedenborg

"(...) Os anjos de Swedenborg são as almas que escolheram o céu. Podem prescindir de palavras; basta que um anjo pense em outro para tê-lo junto de si. Duas pessoas que se amaram na Terra formam um só anjo. Seu mundo é governado pelo amor; cada anjo é um céu. Sua forma é a de um ser humano perfeito; a do céu também é".

Filha da mãe do Borges, em "O livro dos seres imaginários".