quinta-feira, 27 de dezembro de 2007

pega a prancha

Percebe que o tempo fica mais lento quando você chega? Cada movimento é amplificado, e os relógios páram numa revoada de cabelos. Quanto tempo, somado tudo, será que passarei te observando? Será que saberemos nos proteger dele, no nosso casulo feito de ternura e verdade? Ontem vi que quero e acho que sim.

Pode vir, tempo. Você é uma marola que vira onda, maremoto e depois tsunami, mas nós vamos te surfar. Até o final.

sábado, 15 de dezembro de 2007

talvez eu só esteja com fome

Às vezes sinto saudade de um cheiro genérico de restaurante de hotel, ou de restaurante de ir aos domingos, que aparece repentinamente. Não é propriamente um cheiro bom. É de comida bem feita, mas com certa dose de industrialização que conferia diferença do dia a dia. Lembra ocasiões especiais. Ou melhor, sentimentos especiais. Acolhimento, birra na hora de dormir e outras dessas coisas que passam rápido. Não sei de onde vem, e a expressão que o acompanha é quase sempre de incerteza. De balanço entre erros e acertos nessa minha ainda curta vida. E para onde vou com tudo isso debaixo do nariz?

Eu fico quieto. Odilo, não. Ele lembra dessas coisas com alegria e sorrisão. Pega logo as fotos para mostrar ao interlocutor, mesmo que ele não quera vê-las. E quem diz "não, Odilo, não quero ver as fotos da sua infância; ela foi igual à minha na essência e tira esse sorriso do rosto". Você diria? Eu diria. Mentalmente, só.

O que para mim vira dúvida, nele vira ansiedade. Qual será o jeito mais aprazível de lidar com nossas vontades indizíveis, com nossos pequenos tormentos, eu não sei. Sei que contar isso me deixou um pouco mais feliz.

Conheça Odilo.

segunda-feira, 10 de dezembro de 2007

temp

Cuidado, amigo. O tempo não quer saber de você. Ele não vai pedir licença, nem por favor, e muito menos desculpa. O tempo não erra. O tempo pode corroer mais que maresia. E pode dar intimidade. Só não deixe-o sem resposta. Como assim? Não é porque ele vem atropelando que se deve temê-lo ou entregar os pontos. Mas adianta brigar com o tempo? Não. O que se faz é proteger as coisas dele. E da falta dele. É.

quinta-feira, 1 de novembro de 2007

roteiro - parte 3

Depois de longo suspiro.

- Desculpa, cara. Não precisa ficar puto. Contaí...
- Bom... Você leu até o final?
- Não, comecei a ler pouco antes de você chegar.
- Então... Ela gosta do cara e sabe, mas vai descobrir a intensidade disso da maneira mais foda possível.
- (Ahn com as sobrancelhas enquanto engole o superdimensionado gole de água que quase o faz lacrimejar)
- Ela fica perdida sem ele num fim de semana. Na sexta rola um bar legal do pessoal do trampo - não precisamos gastar muito tempo na cena - mas depois eles descobrem que estão indo para a mesma festa - uhn, muito tempo depois eles descobrem que na real não era a mesma - e como ele vai com a namorada ela deixa de ir. Depois ele passa sábado e domingo sem dar sinal de vida e ela pira.
- Como assim pira?
- Não pira pira, mas sente que é...
- Só. E aí?

Igor parou de falar para tentar decifrar se Pedro começava a levar a história a sério. Sem descobrir, ensaiou um bocejo não muito convincente e emendou "tá tarde, vou nessa". Ouviu "pô, peraí" e sorriu com a vitória na primeira batalha. Ele não só ficaria com a mulher da vida dele como ainda transformaria a história em um longa.

(continua)

Post ficou pendurado por quatro meses. Os quatro mais intensos dos últimos tempos.

quarta-feira, 24 de outubro de 2007

2

Sessenta dias. Cê sente? Semente. Sonhos brotando aos poucos e florando. Plantinha já não tão frágil. Candidada a árvore frondosa. Quiçá a um bosque inteiro. Eu estou aqui... Semeando.

terça-feira, 23 de outubro de 2007

bzzzzzz

Quando se ama de dois, é melhor amar junto. Se você vem até aqui e a notícia é velha, é porque eu estava aí do lado. Estava escrevendo e rasurando a lousa mágica invisível que surge em minha frente ao te ver. "A luz vermelha chegou achando que era quente e tomou susto ao tocar sua pele incandescente". Vai, volta, muda, esquece - confesso... Me perdoa por querer escrever sem computador, por ter dias em que, não importa a duração da vigília, não consigo acertar esses pernilongos em hora de dormir que são as bobeiras da minha cabeça.


sexta-feira, 19 de outubro de 2007

zentado

Ela veio vestida de cinza. E coloriu o dia. O dia veio vestido de cinza para tentar entristecê-la. Mas o cinza do dia, que tudo desbota, perdeu para o dela, que tudo colore. Que contrasta na pele morena. Nem brigaram, pois seria covardia. O dia se despiu e, nu, fez do sol troféu. Ela sorriu sem perceber que o sol era dela. Sorte que eu vi. E posso contar.

segunda-feira, 1 de outubro de 2007

Trilha sonora do fim de semana



O vídeo é ruim, mas a versão deles para a música das "Girls Aloud" - pelo que entendi uma espécie de Spice Girls B - é bem boa.

quinta-feira, 27 de setembro de 2007

desculpa

Ela estava vestida de amarelo e de razão. Amarelo sobreposto à blusa branca, a razâo sobreposta à razão mesmo, como em outras vezes. O sorriso que me conquistou e acolhe, sempre presente, mostrava o lado bom da vida. E eu reclamando. A pele ainda mais linda depois do sol encostava em mim de leve, e eu tateava o lado doce. Quanta insensibilidade. Você aceita um consciente atrasado?

sábado, 15 de setembro de 2007

melancia

Se as crianças soubessem de melancolia, perguntariam: "tio, porque você está assim hoje?" "assim como?" "assim, meio ancólico..."

distância

Odilo encapava o galão de seu filtro de água com uma justa cobertura feita em crochê branco. Toda a nossa intrasponível diferença estava sintetizada ali. O apartamento era, no todo, bacana. Podia ser meu. Mas a capa branca de crochê colocava as devidas léguas de distância entre nós dois.

Odilo gostava de acordar cedo. Antes de dar um beijo na mulher ainda na cama, colocava os óculos. Traira Suzana uma vez, no terceiro ano de casado. Estava bêbado e rodeado de pessoas - eu inclusive - que não condenariam o ato. Não sei se teve remorso no dia seguinte. É possível que sim. Suzana deve ter perguntado alguma frase com "benzinho" e ele disse que o dia anterior tinha sido cheio no trabalho.

Não sei como Odilo e Suzana se conheceram. Não fui no casamento porque, na época, tínhamos acabado de nos conhecer. Pelas fotos no apartamento, parece ter sido uma bela festa. Eles estavam felizes, claro. Pelo que conta, Odilo fumava maconha na faculdade. Era do tipo intelectual cabeludo com violão. Quando lembra da droga, fala como se fosse coisa de criança. Eu digo apenas que não gosto.

Não sei como Odilo e Suzana se apaixonaram. Talvez não devesse ter começado esse texto sem apurar direito a história, mas a capa branca de crochê do filtro não permitiu. Penso que talvez o encontro tenha sido durante as aulas de inglês dadas por ela.

Nunca havia me interessado pela vida dos dois, mas naquele dia eles pareciam tão contentes por estarem rodeados de pessoas - eu inclusive - se divertindo e sujando o chão da casa deles de resto de sanduíche de metro que fiquei pensando.

Meu amor, não menos legítimo do que o deles, cresceu em madrugadas improváveis. Ele se assusta com dúvidas e acelera em curvas. Também sabe boiar em sofás, sereno. Às vezes nos arranca - a mim e a ela - lágrimas, mas não o faz por mal.

Uma vez Luís, meu professor de literatura no primeiro colegial, perguntou à classe a diferença entre amor e paixão. Lembro de um colega ter respondido "ah, paixão é" e gemido como se gozasse. Não lembro a resposta de Luís, ou se ele deu uma. Sei a minha.

quinta-feira, 6 de setembro de 2007

os beatles faziam plantão certeza



Ooh I need your love babe,
Guess you know it's true.
Hope you need my love babe,
Just like I need you.
Hold me, love me, hold me, love me.
Ain't got nothin' but love babe,
Eight days a week.

Love you ev'ry day girl,
Always on my mind.
One thing I can say girl,
Love you all the time.
Hold me, love me, hold me, love me.
Ain't got nothin' but love girl,
Eight days a week.

Eight days a week
I love you.
Eight days a week
Is not enough to show I care.

Ooh I need your love babe,
Guess you know it's true.
Hope you need my love babe,
Just like I need you.
Hold me, love me, hold me, love me.
Ain't got nothin' but love babe,
Eight days a week.

Eight days a week
I love you.
Eight days a week
Is not enough to show I care.

Love you ev'ry day girl,
Always on my mind.
One thing I can say girl,
Love you all the time.
Hold me, love me, hold me, love me.
Ain't got nothin' but love babe,
Eight days a week,
Eight days a week,
Eight days a week.

sexta-feira, 31 de agosto de 2007

geometria

Talvez gostasse mais de matemática na escola se você fosse meu objeto de estudo. Me perderia no cálculo de suas curvas, na trigonometria dos ângulos da sua boca. Inventaria fórmulas para calcular a área da sua pele macia, o volume de suas pernas. Fuuuuuf³. Log de amor na base dois.

domingo, 26 de agosto de 2007

marcial

Meus lábios marcham pela sua pele pedindo para que esta seja a mais longa de todas as campanhas. Marcham pelo prazer de caminhar. Em círculos, em oitos, em Ts e em tesões. Não encontram resistência, só campo macio e infinito. Por vezes detém-se em nuca ou boca. Porque querem. Nada como marchar em tempos de paz.

domingo, 19 de agosto de 2007

domingando

Reúno na memória os elementos de nossa já quase não curta história. É bom lembrar de você. Aqui de longe, tento adivinhar qual seria seu prato no almoço, se você gostaria do sorvete. Penso com tanto carinho, querendo que você viva e com a certeza de que está pensando um pouquinho em mim também. Não é que gostei desse tantinho de saudades?

sexta-feira, 17 de agosto de 2007

solução?

Tenho sede. Todos os dias, quando chego em casa de madrugada, viro uma garrafa de plástico reutilizada pela enésima vez. A sede não passa. Todas as tardes, quando chego ao trabalho, a sede aperta. Garganta seca, vou ao filtro. E nada. Ao meu lado quase todos têm sede. Muitos têm mais sede do que eu. Não é por isso, mas não me sinto à vontade de dizer que tenho sede e que a água não a cura. Talvez por parecer óbvio. "Tenho sede". "Beba". "Já bebi, não adianta". "Beba até que adiante. Esse problema tem solução clara. Beba, beba, beba". Fico de barriga inchada, mas a sede não passa. A sede pesa. Drena o ânimo, escoa a criatividade, seca a confiança. Dêem licença, vou buscar um copo d'água.

segunda-feira, 13 de agosto de 2007

Pangéia

Pé ante pé vai até a porta, sempre destrancada. Escorre silencioso por sala e corredor. Quieto, besta-fera selvagem... Entra de mansinho e deita. "Oi, como você demorou...", sorri ela. Mais alguns movimentos e pronto. Sem nenhum maremoto, o lindo litoral nordestino se aproxima da costa da Nigéria e, placas tectônicas suaves, repousa. Aos poucos as respirações entram em compasso. Nenhuma noite é longa o suficiente. Nenhuma palavra diz o bastante.






dívida



Prometi para um noveleiro freqüentador do blog há três semanas. Aqui está.

terça-feira, 7 de agosto de 2007

you only live once

Por vida, é preciso ter o coração partido e partir outro. Para saber como dói e para entender a responsabilidade que se tem. Por vida, é recomendável amar pelo menos duas vezes. Uma para se encantar e outras para comparar. É também recomendável ser odiado pelo menos uma vez. Para se aprender a não gastar tempo com quem desgostamos. Por vida, são aceitáveis alguns momentos tão confusos que nos façam chorar. Porque precisamos entender que, embora todos os atos tenham conseqüências, não somos capazes de tudo. Por vida das dúvidas, é melhor assim. Nunca sabemos onde vamos chegar.

segunda-feira, 30 de julho de 2007

fim de semana

Um certo par de dias simplesmente não pode ter 48 horas. Alguém adiantou o relógio enquanto nos abraçávamos exaustos, só pode ser. Passou tão rápido. Por outro lado, num par de dias podem caber tantas lembranças e sentimentos que eles parecem dias de 100 horas. Matematicamente impossível, emocionalmente improvável, mas é assim.

segunda-feira, 23 de julho de 2007

bombordo

Os trajetos que desenho com dedos mágicos em sua pele mostram que estou no caminho certo. Quantos cafunés transformaram seus cabelos em marolas. Desmanchadas em ondas suaves, garantindo que mesmo velejando a incontáveis nós com a ajuda daquele sopro fresco e depois quente o barco não há de virar. Se virar, fique tranqüila. Nadadores não se afogam.

segunda-feira, 16 de julho de 2007

retificação

Você tem razão. Eu não te amo. Sinto apenas uma vontade constante de estar perto. Quando vejo uma coisa bonita, como a calçada da esquina de casa coberta de flores roxas hoje à noite, quero te mostrar. Às vezes te olho de longe. Não para que você me veja, mas para matar a vontade. Guardo o que você me diz sem esforço e sem saber. Lembro no susto, e gosto disso. Misturo carinho e agressividade naturalmente. Não estudo, mas aprendo. Fico feliz quando você gosta de uma música, de um lugar, de uma frase desenhada sob medida, quando percebo que certas coisas são nossas, que estamos brincando juntos de lego - daquele jeito gostoso e inventado, sem manual. E isso tudo não precisa de nome, não precisa ser dito. Só quero que continue.

quarta-feira, 11 de julho de 2007

sorte

Papel laminado correndo gigante nas bobinas. Alguém quase Björk de dançando no escuro manuseia as folhas. Corta em tamanho menor, embala e vende. Algum caminhão leva para alguma fábrica, que imprime tinta verde avisando que trata-se de menta e picota de novo. Esmeraldas de açúcar descem pela esteira. Dedos habilidosos fazem-nas sentirem-se abraçadas. Saco plástico, caminhão. Via Dutra ou qualquer outra, até o depósito. De lá negociadas sem glamour para algum supermercado. Administradora de festas compra com semanas de antecedência. No dia coloca em recipiente de vidro, bonito. Chega a grande noite, e a balinha de hortelã dorme despretensiosa. Dedos longos a alcançam. Minutos depois, embalagem detida por dentes que gostam de lábios, é acordada. Papel se estica lentamente. Frente à bala nua, ninguém presta atenção.

terça-feira, 10 de julho de 2007

amnésia alcoólica

Depois de um tempo acostumei. Aprende-se a lidar, na verdade. Se você não lembra o que fez, a chance de ter feito algo não muito correto é enorme. Recomendo mapear com os chegados para saber as dimensões do estrago. Desculpas só são necessárias se as mancadas envolverem amigos. Caso contrário, o melhor a fazer é fingir que nada aconteceu. Se alguém comentar em voz alta, em meio a não-participantes da esbórnia na hora do café, das duas uma. Ou é mau caráter ou queria estar no seu lugar.

Difícil mesmo é quando você quer lembrar, e não esquecer. Escolheu as palavras com carinho e a voz tremeu com sinceridade - como pesa a sinceridade. Essa, confesso, me pegou de surpresa. No ambiente barulhento e esfumaçado, devo ter falado com o queixo junto ao peito, alto o suficiente para você me ouvir e baixo o suficiente para que o pernambucano que nunca mais verei à minha direita, o brother em frente e o conhecido à esquerda não ouvissem. Faz tempo e não lembro muito bem o que se passava naquela época, mas posso ter dito que havia um pouco de você em cada minuto do meu dia, que eu tentava nadar rio acima inutilmente, quando tudo o que queria era aproveitar a descida. Importa menos onde se vai desaguar.

segunda-feira, 9 de julho de 2007

45

Sentado no sofá de couro preto vagabundo, ele esperava. Vez ou outra fazia comentário sobre o jogo de futebol na televisão, um modorrento Náutico e Palmeiras, zero a zero. Poderia ter pensado "pelo menos o meu jogo já saiu do zero a zero", mas não o fez. Tinha os olhos fixos em um mural cujo vidro espelhava. Era ali que apareceria primeiro. Reflexo, depois ela.

Perguntara diretamente, mas o desejo de lhe fazer uma surpresa e o rosto lindo comunicando a intensão barraram demais perguntas. Lição aprendida. Deixe-se surpreender. Reuniu os elementos que tinha. É preto, colado ao corpo, tecido fininho e, principalmente, não é a primeira escolha do pai.

Ouviu o plecplec de sapato de mulher vindo pela escada. Desajeitou o cabelo mais um pouco, respirou fundo e fixou o olhar. Era ela. Sentiu o ouvido entopir como se descesse a serra. Ela passou rapidamente, mas deixou tempo suficiente para ter os tornozelos mirados, as pernas escrutinadas, as costas lambidas com os olhos e o corpo desejado. Gol do Palmeiras no último minuto. Golaço dela, bem no comecinho do jogo. Golaço.

sexta-feira, 6 de julho de 2007

inspiração

Encheu os pulmões como se tivesse fome de toda a atmosfera. Colocou para dentro poeira, pólen, amores, chuva, cheiro de neutrox do cabelo de uma moça que passava na rua, desespero, angústia, alívio, felicidade, aroma de fritura-padrão de frente do mc donald's, vontade de gritar e carvão em brasa. Escreveu como poucas vezes e recebeu o elogio de que estava inspirado. Respondeu que era bem melhor do que estar expirado. Com o corpo murcho, precisando de assopro no dedo em moldes de desenho animado para virar alguém. Era melhor também do que ser um ex-pirado. Caboclo que resolveu fazer tudo certo e nunca mais teve dúvidas. Deixou de olhar para o lado e perdeu um bonde que não sabia onde ia dar, mas no qual tinha vontade incontrolável de subir.

terça-feira, 3 de julho de 2007

pulha

Olhou no espelho e viu um cretino. Canalha da pior espécie, vilão de novela das seis. Menino bem criado, gentil, abre as portas, nunca passa na frente de uma mulher. Estudou na escola da elite, morou no exterior, entraria fácil na classificação de "cidadão de bem" ou como algum tipo vazio de exemplo. Razoavelmente bem empregado - "é, o mercado tá foda..." -, sorriso bonito. Mirando a si mesmo sabia que não passava de um moleque, medroso e metido a malandro. "Minha mãe ficaria decepcionda", pensou, num dos raros lampejos de percepção. Finalmente viu que não tinha o direito de ser desonesto, mesmo que arranjasse mil justificativas, várias verdadeiras, algumas plausíveis. Sentiu o peso de ser um pulha e mudou antes de esquecer.

sábado, 30 de junho de 2007

perspectiva

Foi inusitado, depois desses dias, te olhar a média distância. Situação em que poderia estar vendo apenas aqueles trechos de pele, os lábios, cabelos confusos. Diferente também de quando passo de longe, navio no horizonte com aceno tímido de náufrago. Sua beleza é outra a média distância. Fica no centro do quadro e torna insignificante tudo ao redor. Distância suficiente para lançar olhares, mas com certo perigo que alguém os intercepte. Eu gosto da média distância, mas prefiro a ausência dela.

quinta-feira, 28 de junho de 2007

causa e conseqüência

Ontem não se pensava em outra coisa. Aquilo que às vezes não parece mas é real, algo mais ou menos cruzamento da Cardeal com a Teodoro, aconteceu, ontem. Há dúvida se ontem era o dia certo. Mas talvez não houvesse forma de conter para além de ontem. O dia ontem foi tão atipicamente quente que até choveu chuva de verão. Ontem criou um novo amanhã.

quarta-feira, 27 de junho de 2007

taquicardia

Vasos dilatados. Sangue vazando para dentro, rápido, preenchendo galerias de fervura. Acelerando aquele músculo involuntário que pulsa por você. Lenha na caldeira da locomotiva. Queima queima queima. Descobre-se que o ponto de fusão do corpo é muito maior do que se pensava. Pupilas dilatadas, dedos crispados. Depois ágeis como felino. Oxigênio a conta-gotas.

A distância necessária para descobrir este perfume não permite retorno.

terça-feira, 26 de junho de 2007

reação

Dizem que ela teve tempo de pensar.

Algum veneno deve haver na ponta destes dedos para me deixarem febril quando seguram meu braço com certa força. Barba mal-feita e áspera fazendo faísca no meu pescoço. Calor. Vestígios de eletricidade naqueles braços, que fecham corrente em volta da minha cintura e causam curto-circuito. Tanques de coisa altamente inflamável são as coxas, para me fazerem combustar dessa forma ao se intrometerem no meio das minhas. Calor. 16 toneladas de pressão: corpo grudando minhas costas na parede. Lábios como meteóro incandescente, caindo certeiro em minha direção. E eu envenenada, chamuscada e eletrocutada não tenho para onde fugir.

segunda-feira, 25 de junho de 2007

labirinto

Quis ir embora. Quase perguntou a ela onde estava o mapa, mas conteve-se. Condenou-se por não ter jogado as inúteis migalhas de pão de João e Maria pelo caminho para saber como voltar. Olhou em volta e viu enormes as árvores que tinha plantado fazia pouco. Terreno fértil, pensou. Como pode sair para um passeio com alguém, jogando sementes pelo chão sem saber direito se elas vão brotar, e de uma hora para outra você está em um labirinto. Árvores sem fim, formando paredes instransponíveis. Ficou parado observando a floresta por mais de dez minutos. Quer ficar ali para sempre.

domingo, 24 de junho de 2007

contato

Deixaram as pernas encostar como se não tivesse a menor importância. Era bom estar ali. Os olhos pequeninos dela queriam sumir o cansaço do corpo dele, que prestava atenção em cada movimento. Um pouco de contato em ambiente quase neutro. Aproveitaram bem aqueles minutos, como vinham fazendo desde o dia anterior. Não contavam, mas sabiam que aquele período de vazio estava chegando e por isso se aproveitavam. Foram embora juntos. Tinham cuidado com a semântica. Cada palavra, em cada estágio, queria dizer uma coisa. Mas aquilo que insiste intensamente em incidir ao mesmo tempo é mais do que coincidência, ele concluiu. Deram as mãos num movimento de até mais - pararam com as despedidas. Cada dedo encostado dizia quero estar com você. Era assim que se beijavam. Sem lábios. Crime perfeito. Algumas coisas são simplesmente lindas. Something, o céu de Bagdad Café, o que eles sentem um pelo outro.

sexta-feira, 22 de junho de 2007

evolução

Da timidez ao olhar, do olhar ao sorriso, do sorriso ao diálogo, do diálogo à malandragem, da malandragem à falta de timing, da falta de timing à malandragem, da malandragem à madrugada, da madrugada à malandragem, da malandragem à situação sem precedentes, da situação sem precedentes à dúvida, da dúvida à decisão, da decisão à contraproducência, da contraproducência à angústia, da angústia ao diálogo, do diálogo à serenidade, da serenidade à verdade.

quarta-feira, 20 de junho de 2007

biografia

Se algum dia minha vida vier a valer uma, nem que seja um projeto de conclusão de curso de alguma faculdade xinfrim, que participação você quer ter?

Um parágrafo, escrito pelo menos talentoso do grupo, mal-ajambrado nos primeiros capítulos, daqueles que o orientador pergunta "não podemos cortar isso aqui?"

Ou quer ser a grande entrevistada, receber os alunos ansiosos em casa e lhes oferecer uma xícara de chá antes de contar nossa história?
Separar um marcador, uma dedicatória, uma página de bloco arrancada. Mostrar ponderando que naquele tempo os repórteres ainda usavam papel e que, no verso, havia palavras do então governador do estado. "Ele escreveu isso em uma pauta...". Contará detalhes do nosso casamento, dos livros que terei escrito para você, dos furos que apuraremos juntos, do tanto que te gosto.

terça-feira, 19 de junho de 2007

dois sentimentos

Um deles é parente querido internado em hospital, mantido vivo por aparelhos. Cansado pelo tempo, colecionador de chagas pelo caminho, ferido de bala mês passado. Cada encontro é um alento. Dá vontade de dormir desconfortável na poltrona ao lado da cama, aguardando a volta à vida, de esperar até que apareça a cura, de insistir. Você viu aquele cara na Polônia, que acordou depois de não sei quantos anos?
Depois da volta para casa, depois de sentar à mesa da cozinha e chorar tomando um copo d'água, a palavra. Ortonásia. Recompõe-se. Na próxima visita eu falo. Falta coragem.

O outro nasceu prematuro mas não precisou de incubadora. É um bebê lindo, daqueles Anne Geddes, cheio de dobras. Se algum pediatra esperto o descobrisse, faria um estudo para levar a muitos congressos. Emocionar platéias e dizer a vida vive nos provando o contrário. Tem tudo para ser um adulto com tantas qualidades que as pessoas sorriem só de olhar. Falta que a mãe o abrace e embale.

segunda-feira, 18 de junho de 2007

barra

Pisou a rua de terra desviando da brita que nunca entendi porque fica ali como há anos fazia. Tinha uma curiosidade para matar. Caminhou duas casas. Olhou o muro de pedra. Não se lembrava da descrição, o que não a impediu de dar meio sorriso e pensar é essa. Ela não percebeu, mas aquele quase mostrar do dentes era formado por algumas camisetas, um par de tênis, folhas semi-desperdiçadas, incontáveis olhares, zilhões de 0s e 1s se alternando em código binário, um perfume, dois abraços, 229 mensagens de texto, uma madrugada, dezenas de cafés, aquelas músicas, doze horas e cinqüenta e um minutos, raros apertos de mãos,

Perguntaram algo que ela não ouviu direito. Disse que/não/nada e puxou outro assunto.

sábado, 16 de junho de 2007

esquema



P.S.: trocar galega por morena.

quarta-feira, 13 de junho de 2007

amputação

Sentimento estranho, este. De ter saudades do que está perto, uns 30 passos de distância, contei hoje. Nos últimos dias fui algumas vezes até sua janela e fiquei espiando quieto, pensando. Saí sem dizer nada, sem jogar uma pedrinha para chamar. Toto dos novos tempos, talvez. Sinto falta das possibilidades, das cenas que criei. Na última estou de pé na cozinha olhando a vista, você chega pelas costas, me abraça e canta o mais recente refrão a entrar na minha vida com significado novo. Que saudades da sua preocupação, do seu olhar de cuidado. Desculpa te dizer aquela vez que você sofria por opção. Continuamos conversando por esses sinais de fumaça, rastros digitais de nossas andanças. Amputação lenta, sem anestesia, de um membro saudável. Os tecidos vão rasgando aos poucos. Às vezes há uma cicatrização e é preciso rasgar de novo. Dói, dói, dói, pequena. Não sei se tem outro jeito.

terça-feira, 12 de junho de 2007

quero-quero

Quero te obedecer. Bolar maneiras mirabolantes de tirar meu braço formigante debaixo do seu corpo sem te acordar. Perder a hora. Ganhar o dia. Descobrir se o melhor churrasco grego do mundo é o de Paris ou o de Bruxelas. Que você me jogue na parede. No chão. Na grama. No colchão. Levar seu celular no bolso quando você resolver sair sem bolsa. Coçar suas costas. Dividir silêncios confortavelmente. Dar a colher e a panela do brigadeiro para você raspar. Te morder. Acordar, te fazer um cafuné e sussurar que vou tomar banho primeiro para você dormir mais um pouquinho. Receber um sorriso sonado dizendo obrigada, lindo. Plantar olhares. Colher sorrisos. Ir ao japa na cabine, rolar de rir no tatame e ficar com vergonha quando o garçom entrar de repente. Saber o endereço exato - com CEP - das suas pintas. Tirar longos e negros fios de cabelo das minhas camisas. Colocar o fone no seu ouvido e dizer ouve essa. Uma sobremesa e duas colheres. Levantar os olhos do meu livro na praia e te contemplar por alguns momentos enquanto você lê o seu. Te convencer que o melhor travesseiro do mundo sou eu. Comer coxinhas e bem-casados. Fazer recreios. Beijos que encaixam. Te desobedecer. Você.

(post constantemente aberto. criado originalmente em 28/05/07 à 00:51)

it's not over



(...)
My tears will show
That I can't let you go
It's not over, not over, not over, not over yet
You still want me, don't you
It's not over, not over, not over, not over yet
Cos I can see through you
It's not over, not over, not over, not over yet
(...)

segunda-feira, 11 de junho de 2007

pro buraco

Into the hollow

Avoir, Adieu, Goodnight
I'm too wrong, to get right
But I can't wait forever
I've always been alone
A fool believes he’s clever
Don't you wanna go into the Hollow ?
I won't go alone
Aren’t you gonna follow ?

I live behind my eyes
Be sure to keep the surprise
I break what I’ve already borrowed
That's why I always go
alone into tomorrow
Don't you wanna go into the Hollow ?
I won't go alone, aren't you gonna follow ?
Into the Hollow

domingo, 10 de junho de 2007

matemática aplicada

Preciso urgentemente de um gerente de investimentos. Depois de quase quatro anos numa aplicação segura e estável, de retorno razoável, resolvi transferir quase todos os meus recursos para um fundo novo que apareceu. Não posso reclamar do retorno, que em uma semana foi fantástico. Fiquei eufórico. O problema, dizem, foi a alínea L, que, indo e voltando do contrato, me impediu de efetuar o saque. Carência. De quanto tempo? Indeterminado. Confesso que não acreditei muito naquilo. As conversas com os controladores do fundo eram sempre produtivas, e o saldo crescia. Alguma brecha deve ter... Errei. Os controladores não querem mais tratar do assunto. Fiquei rico e não posso encostar em um centavo. Vou deixar lá. Espero que a CPMF não coma tudo e que, quando a carência acabar, se algum dia acabar, ainda reste alguma coisa.
Eu digo que deviam ensinar economia na escola...

terça-feira, 5 de junho de 2007

roteiro - parte 2

Depois de pensar por meio minuto ou por um inteiro, Igor se levantou. Olhou baixo.
- Ela também gosta do cara...
Pedro sacou.
- Olha, a personagem é sua. Se você me convercer, com coerência, que ela curte o cara, eu filmo.
- (Fiiiiiiiiiilho da puta...)
- Mano, ela tá enrolando com esse papo. E o cara é um puta trouxa. Devia ter aprendido isso com a primeira mina, aos 16.
- Isso o que?
- Putaquepariu, é você, né?
- Eu que?
- O trouxa...
- Se fodê, mano... Trouxa o que...? Escrevi uma história, só.

Pedro sabia que o roteiro não valia nada, e que, por isso, Ana devia uma. (Vou cobrar em ...). Mas se interessou pela história. "A história do trouxa"... é..., bom título...

(continua)

domingo, 3 de junho de 2007

roteiro - parte 1

- Não, não! Peraí, isso não faz o menor sentido!
- Por que não?!
- Porra, porque eles não podem chegar nesse nível antes de contato físico, isso não existe!
- Claro que existe, essa é a beleza do roteiro!
- Quando você me falou, achei que fosse um flerte. Aí tudo bem, eles se olham, pá, aquilo tudo. Agora, desse jeito, ninguém vai acreditar nessa merda!

Acenderam cigarros. A grande dúvida de Igor era: digo para esse puto que a história aconteceu comigo ou venço na argumentação? A de Pedro: onde estava com a cabeça quando aceitei essa porra? Papéis, garrafas e xícaras sobre a mesa, duas da manhã. Sob o escritório da produtora a Vila Madalena pulsava infernal. Pedro foi à janela e enconstou a testa na moldura do vidro. Tragou. "Essa porra encheu de playboy, que merda...". Igor voltou com copos d'água. Sugeriu.

- Vamos começar de novo.
- (Suspiro) Cara, da onde você tirou isso?
- Bicho, olha que lindo. A maioria das pessoas se pega e depois se conhece. Às vezes dá certo, muitas não. Essa história é sobre duas pessoas que, sem nunca terem encostado os lábios, sem mal terem encostado um no outro, se gostam pra caralho. Talvez por anos.
- Mas presta atenção. Tudo bem que cinema é cinema, mas como você acha possível se apaixonar por alguém sem nunca ter dormido, ou melhor, sem nunca ter acordado com a pessoa? Isso aí é o seguinte. O cara quer, a mina não e ele caiu na dela para manter as esperanças. Amor platônico. Puta clichê. Sem contar que vai ficar chato pra cacete na tela. Não acontece nada!

Igor colocou o dedo indicador e o dedão juntos sobre o nariz, separou-os penteando as sobrancelhas e voltou a uni-los por baixo, um em cada olho, os quais coçou.

(continua)

quinta-feira, 31 de maio de 2007

sensação térmica

Conforme os corpos se afastaram, ar gelado. Não mais do que 20 segundos no lugar mais confortável em que já estivera. Andou. Só depois lembrou de olhar para trás. Saiu do coberto para poder ver e tomou um cruzado de direita do frio no peito recém órfão e mal agasalhado.

Fez do elevador uma incubadora. Largou o peso na parede, fechou os olhos. Quase perdeu a parada, mas deu tempo. Arrastou-se até a cadeira. Fala sério que ainda são sete horas. Batucou uma frase. Quando estava prestes a torná-la pública viu que só interessava a uma pessoa. Mudou de mídia. A resposta o pegou mais despreparado do que o frio.

Só não vale areia e dedo no olho.

quarta-feira, 30 de maio de 2007

música da vida

Nova versão. The Strokes encontram Hal.

é difícil...

Gata, o que acha de resumirmos desta forma: It's hard to explain?



I just want to let you know

Como não sabia o que dizer, deixou o cd com um post it assim: presta atenção no refrão.

terça-feira, 29 de maio de 2007

we float

Ela costumava dizer adeus o tempo todo. Aquele dia foi ele quem disse. Nunca imaginou que teria a grandeza de fazê-lo. Que bom, cresci um pouquinho desde a última vez, pensou. Nas primeiras linhas de Alta Fidelidade, Nick Hornby culpa as músicas pop de fossa pela tristeza de muitos. Sempre descordara de Hornby.

Para ele, o perigo mora nos filmes água com açúcar. Fitas nas quais o mocinho se desdobra, escreve poemas, faz o Empire State Building piscar com um coração e a mocinha se convence, feliz, a ver qualéqueé a do cara. Isso definitivamente não funciona, é óbvio, mas em alguns momentos - pode reparar - você está fazendo igual, achando que adianta. Que um sorriso a mais ou uma palavra a menos, uma ligação bem sacada ou mais um elogio surpreendente vão ajeitar a vida. Foi mal, mano. Não vão. Não há justificativa, tese de doutorado, manual de instruções. Há uma janela quase única para se resolver essas coisas. Com o tempo adquirimos conhecimento suficiente para identificá-la. E como mecanismo de auto-defesa, só deixamos o corpo escorregar nesse tobogã que nós mesmos construimos depois de checar as estruturas três vezes, dar uma piscadela para o bombeiro de prontidão como que dizendo não vou precisar, mas fica esperto aí, olhar lá para baixo e ver onde queremos chegar. Não tem erro, tá na mira. Foi difícil subir aqui, mas esse escorrega - o tempo de vencer 0,5 cm de distância - vai ser tão bom... Só então damos o impulso. Fica raro errar. Mas acontece. E aí é foda. Você sai voando, passa reto, não tem bombeiro, resgate, defesa civil, guarda costeira.

Na boa, não suba de novo. Nem fique olhando para aquela estrutura, procurando defeitos. Fazendo gráficos, pensando que uma pequena mudança no ângulo de descida ou uma rampa mais acentuada vá te levar ao destino. Pegue seu tapetinho e vá para casa. Foi o que ele fez aquele dia. Take life as it comes, pensou. Era estranho, mas se sentia até leve.

We Float, PJ Harvey

We wanted to find love
We wanted success
Until nothing was enough
Until my middle name was excess
And somehow I lost touch
When you went out of sight
When you got lost into the city
Got lost into the night

I was in need of help
Heading to black out
'Til someone told me run on in honey
Before somebody blows your goddam' brains out
You shop-lifted as a child
I had a model's smile
You carried all my hopes
Until something broke inside

But now we float
Take life as it comes

So will we die of shock?
Die without a trial
Die on Good Friday
While holding each other tight
This is kind of about you
This is kind of about me
We just kind of lost our way
But we were looking to be free

But one day we'll float
Take life as it comes

segunda-feira, 28 de maio de 2007

crédito

Esse deveria ter sido o primeiro post desse blog, mas espero corrigir o equívoco agora. O nome desse modesto espaço virtual nasceu de uma declaração de nosso querido Henry Sobel sobre o episódio das gravatas. Com a palavra o rabino: "estou profundamente amargurado, muito arrependido e ao mesmo tempo convencido de que um corpo estranho entrou no sistema".

sábado, 26 de maio de 2007

I'm sure you do...




Stop making the eyes at me, I'll stop making the eyes at you
And what it is that surprises me is that I don't really want you to
And your shoulders are frozen (cold as the night)
Oh, but you're an explosion (you're dynamite)
Your name isn't Rio, but I don't care for sand
And lighting the fuse might result in a bang, b-b-bang, go!

I bet that you look good on the dancefloor
I don't know if you're looking for romance or
I don't know what you're looking for
I said*, I bet that you look good on the dancefloor
Dancing to electro-pop like a robot from 1984
From 1984!

I wish you'd stop ignoring me, because it's sending me to despair
Without a sound, yeah, you're calling me, and I don't think it's very fair
That your shoulders are frozen (cold as the night)
Oh, but you're an explosion (you're dynamite)
Your name isn't Rio, but I don't care for sand
Lighting the fuse might result in a bang, b-b-bang, go!

I bet that you look good on the dancefloor
I don't know if you're looking for romance or
I don't know what you're looking for
I said, I bet that you look good on the dancefloor
Dancing to electro-pop like a robot from 1984
From 1984!

Oh, there ain't no love, no Montagues or Capulets
Are just banging tunes and DJ sets and...
Dirty dancefloors, and dreams of naughtiness!

Well, I bet that you look good on the dancefloor
I don't know if you're looking for romance or
I don't know what you're looking for
I said, I bet that you look good on the dancefloor
Dancing to electro-pop like a robot from 1984
From 1984!

quarta-feira, 23 de maio de 2007

PS

corpo estranho no sistema adverte: qualquer postagem com tag de horário pós-3h deve ser encarada com ressalvas.

espera

Era como uma fila sanfona. Ele estava ali, comportado, e ia chegando cada vez mais perto. Como numa fila mesmo. Até que, num sopro, voltava tudo. Lá pro final.

O movimento seguia com ritmos tão distintos que, de fora, a música era linda. Realmente é.

segunda-feira, 21 de maio de 2007

moleque

reticente

na produção textual, três pontos, dispostos paralelamente à linha e ao lado de alguma palavra, usado para marcar uma pausa no enunciado, podendo indicar omissão de alguma coisa que não se quer revelar, emoção demasiada, insinuação etc.

Quase todas as frases vinham pontuadas desse jeito. Aquilo intrigava. Digo, não desse jeito, que é uma maneira muito burocrática de encarar as reticências. Elas são janelas, caro Houaiss. Não reduza-as a uma seqüência de pontos. Reticências são links.

Aquela pontuação abria tantas possibilidades que nunca soube direito o que se queria dizer mesmo e o que só existia na minha cabeça. Por exemplo. Você programou o que vai fazer no resto do fim de semana? Não.
Você programou o que vai fazer no resto do fim de semana? Não...

Wow! Alguém mais viu isso? Reticências embutem sorrisos mal contidos e olhares de soslaio. Transformam nãos em convites. Devem ter sido criadas por alguém com muitas coisas para dizer. Tantas que nunca sentariam comportadas no papel.

domingo, 13 de maio de 2007

pressa

Tinha pressa. Contou rapidamente as moedas, meteu-as no bolso e correu para fora de casa. Deixou o portão aberto. Subiu no ônibus indelicadamente, trombando em uma criança. Deu o dinheiro ao cobrador. "Tá certo". Olhar indiferente. (Tá certo, porra) Sorrisinho falso de agradecimento, catraca.

Joelho direito sem parar. Mão esquerda limpando o suor no bigode, na testa. Cordinha, escadinha, pulinho, vidinha. Passo firme ladeira acima, pernas curtas. Machucava a lateral dos dedos com as unhas.

Din-don. Din-don não, pééééeéé, que é como fazem as campainhas. "Pois não?". "Posso entrar?". "Acho que não...". "Acha ou não?". "Não sei...". "Eu tenho pressa".

terça-feira, 8 de maio de 2007

dúvida

Talvez a grande dúvida fosse sobre quem entrou na vida de quem.
Ele só queria culpar alguém, egoísta que é.
Na verdade a si mesmo, o alvo preferido.
E merecido.
Ela...
Ele não tem competência para falar dela.

sonho

Quarto branco. Mais ou menos onze da noite. Moça morena, alta, de dedos longos e sorriso ímpar tem em seu colo um garoto apaixonado. Ele tem um metro e oitenta e muita coisa para dizer. Ela passa os dedos pelos cabelos dele pensando porque está ali. Ele fecha os olhos para fingir que é um sonho. Ele ainda não sabe como aquela mão é macia porque o contato com ela ocorreu por meio de seu insensível coro cabeludo. Coro cabeludo de merda. Insensível. Ele tem uma bolinha azul, que joga para cima. Ela a bolinha desenvolve o movimento lentamente, pára e cai em sua barriga. Take de dois minutos mostra como eles poderiam passar a vida ali.

Ela:
...

Ele:
Fala

Ela:
O que?

Ele:
O que você ia dizer...

Ela:
Nada.

Os dedos longos são curtos para aquele monte de cabelos. Um sorriso quase nasce, mas ela se acha um pouco ridícula. Decide fazê-lo dormir. Ele pensa nela por meio de Tom Zé... (morena, minha morena, tira a roupa da janela, vendo a roupa sem a dona, eu penso na dona sem ela). Ele pensa nela por meio de si. Ele pensa nela pelo meio. Ele pensa nela por inteiro. Ele não pensa. Ele não consegue. Ela brinca de caminhos nos cabelos dele, sabendo que as trilhas abertas logo se fecharão. E que terá todo o tempo do mundo para reabrir a picada.