sexta-feira, 14 de março de 2008

Odilo

Odilo acordou com sede. Quando chegou à cozinha o relógio marcava 3h10. Escolheu um copo do escorredor e foi até o filtro. Encheu-o por duas vezes e voltou à cama. Algo o inquietava naquela noite, embora ele não soubesse dizer o que. Odilo se inquietava contidamente. Ele nunca falava mais alto do que o necessário - no que o admiro e compactuo - e discutia sorrindo. Pensava antes de falar, e com isso qualquer discussão perde ritmo. Aí, ou o interlocutor se irritava e ia embora, ao que ele se saía com um irritante "peraí, você não sabe conversar" cheio de cinismo e ar vitorioso, mesmo que não tivesse razão, ou a pessoa se dispunha a falar mais calmamente. Odilo entendia de retórica, mas não de sentimentos. E com essa casca nunca resolvia nada, nunca percebia seus erros. Só aceitava elogios, mas não esquecia as críticas. No entanto ele, tanto quanto eu, sabe que memórias não somem na marra.

Odilo estava inquieto porque seus erros insepultos ensaiavam ressurgir. E ele os escondia porque ninguém nunca o havia questionado o suficiente para que ele mostrasse.

Um comentário:

Fabi Uchi disse...

Setembro de 2007? Tava guardado ou errou a data? Faz subir.