sexta-feira, 14 de março de 2008

não sei mais

começado em outubro de 2007, não sei porque, e terminado agora há pouco.

Quando tinha uns 12 anos e passava por alguma crise pré-adolescente, o pai dele procurou - não se sabe onde em tempos pré-internet - uma frase que dizia mais ou menos assim: "nada sai certo da primeira vez. É preciso, portanto, ter coragem de errar". O papel pousou na mesa do telefone - naquele tempo telefone tinha mesa com banquinho acoplado porque também tinha fio - e foi encontrado antes da hora da escola para ser tratado com desprezo.

Aquilo não fez muito efeito na hora, porque há idades abomináveis e fossas a serem ser curtidas, mas o menino nunca mais esqueceu o gesto e a mensagem. Era a forma que o pai encontrava para se comunicar. Inteligente e muito bem informado, ele carecia de habilidade neste princípio tão básico quanto poderoso.

Passaram-se anos até que o menino percebesse o quanto dele vinha do pai. Admirava-o timidamente e ainda um pouco de longe, respeitando a barreira besta criada pelo tempo. Sentia que, depois de tudo o que o pai fizera por eles, talvez não tivesse recebido o carinho e o reconhecimento merecidos.

Desconfio que, com o tempo, aquele pai cansou. Não da família, que sempre será, se não a melhor projetada, a mais bem acabada de suas obras, mas da espera de ver demonstrações de amor. Como é triste privar alguém desta expectativa.

E hoje aquele menino crescido tece lágrimas com uma fibra dolorida de medo e angústia por receio de ser assim a vida inteira. De ser um homem menor do que todos esperavam, sozinho com sua presunção bem disfarçada e suas virtudes dispensáveis. Um engodo. Boa conversa para três horas de bar, boa companhia por alguns meses. E só.

Um comentário:

Anônimo disse...

E não é exatamente o medo que impede as pessoas de serem mais? O medo suga a força que deveria ser usada para ir além.