segunda-feira, 9 de julho de 2007

45

Sentado no sofá de couro preto vagabundo, ele esperava. Vez ou outra fazia comentário sobre o jogo de futebol na televisão, um modorrento Náutico e Palmeiras, zero a zero. Poderia ter pensado "pelo menos o meu jogo já saiu do zero a zero", mas não o fez. Tinha os olhos fixos em um mural cujo vidro espelhava. Era ali que apareceria primeiro. Reflexo, depois ela.

Perguntara diretamente, mas o desejo de lhe fazer uma surpresa e o rosto lindo comunicando a intensão barraram demais perguntas. Lição aprendida. Deixe-se surpreender. Reuniu os elementos que tinha. É preto, colado ao corpo, tecido fininho e, principalmente, não é a primeira escolha do pai.

Ouviu o plecplec de sapato de mulher vindo pela escada. Desajeitou o cabelo mais um pouco, respirou fundo e fixou o olhar. Era ela. Sentiu o ouvido entopir como se descesse a serra. Ela passou rapidamente, mas deixou tempo suficiente para ter os tornozelos mirados, as pernas escrutinadas, as costas lambidas com os olhos e o corpo desejado. Gol do Palmeiras no último minuto. Golaço dela, bem no comecinho do jogo. Golaço.

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